segunda-feira, 19 de outubro de 2015

"Eu não considero minhas canções como sendo pessimistas, elas são realistas" - Entrevista: Lay Soares

Lay Soares é uma das vocalistas da banda curitibana Simonami. Já entrevistamos sua irmã, Lillian aqui no blog e agora é  vez dessa jovem compositora e interprete falar de sua relação com a música e de seus projetos. 

D&CB: Antes de tudo, agradecemos de coração por ter reservado um pouco do seu tempo para nos responder. Conte-nos um pouco sobre como foi o início de sua relação com a música e qual a importância da mesma em sua vida?
Lay Soares: Minha relação com a música foi sendo construída desde a infância. Minha família adora cantar os hinos antigos do "cantor cristão" (hahahaha!) Minha vó pegava o cantor, sentava na cama e se deixasse cantava o dia inteiro. Papai acordava a gente cantando alto pela casa toda também  (hehe) Conforme a gente foi crescendo, eu e a Lilian fomos nos envolvendo mais com o louvor na igreja e perdendo a vergonha de cantar na frente de um monte de gente. Com o tempo a Lilian foi conhecendo músicas novas, estilos novos mais fora do nosso contexto e eu peguei carona. A gente ia de Hansons a Bjork! (risos) Enfim... a música foi criando corpo e fazendo parte da minha história, cada música que eu ouvia em determinada época, se eu ouço hoje, cada uma delas me leva pra um momento da minha vida ou pra uma sensação que eu já tive antes. A música é importante pra mim porque é a maneira que eu encontrei de entender o mundo e de me fazer ser entendida por ele.

Você é uma das vocalistas do Simonami e uma das principais dividindo voz com sua irmã Lillian. Como funciona essa interatividade e como o Simonami influencia sua dedicação a música?
Bom, eu e a Lilian somos irmãs né, crescemos juntas e descobrimos muitas coisas juntas também, como a nossa voz. Pode parecer meio brega mas, nossas vozes reconhecem uma à outra, então a dinâmica acaba fluindo naturalmente, cantamos juntas desde sempre (hahaha). Nossas vozes são familiares, por isso as vezes mesmo sem ensaiar, sem saber como vai ser, as nossas vozes acabam brincando juntas de um jeito incrível! No palco, ou no ensaio é bonito ver isso acontecer, porque a gente se olha e já sabe o que uma vai fazer. Bom, a Simonami tem cinco cabecinhas pensantes ali, cinco compositores, cinco estilos diferentes e isso é muito louco porque pelo discurso de cada um eu consigo ter uma noção do lugar que a música ocupa na vida deles e da maneira como ela ocupa, isso me instiga a repensar a minha perspectiva, a maneira como eu componho, como eu canto, como eu estudo música, como eu interpreto ela num show, enfim, a Simonami acaba me incomodando (no bom sentido) me fazendo pensar no que eu quero com a música, o que eu quero passar com as coisas que eu escrevo, que som eu quero produzir... essas coisas. 


Alguns blogs e sites colocam a Simonami como parte do novo movimento da música cristã (ou crossover), e a "Jóia pra Alegria" do primeiro EP de vocês e "Conjura", composição da Lillian, expressa pontos cristãos interessantes. Como integrante da banda, como você ver essa posição midiática?
Olha, nem sei se a gente realmente faz parte de algum movimento (hahaha). Jóia pra Alegria (do Alexandre) e Conjura (da Lilian) são músicas que falam sobre a vida, sobre o que a gente viveu, sobre as merdas que aconteceram com a gente e sobre as conclusões que tiramos delas. Acho que como a gente é cristão e viveu nesse mundo aí, acaba sendo inevitável falar de Deus quando a gente fala de vida, assim como sei lá... a Karol Conká fala do Erê na música dela, mas isso não significa que ela faz parte de um novo movimento da música do candomblé :) É só ela falando do que ela conhece, do que acredita, do que ela vive, igual a gente.


Suas composições são - em sua maioria - pessimistas e versam sobre conflitos internos e situações decisivas. Algumas são bem conhecidas pelo público através da sua conta do soundcloud. De onde vem a inspiração pra essas canções e como você explica esse lado "sombrio" nas letras?
(Risos) Esse lado "sombrio" se chama vida! Eu não considero minhas canções como sendo pessimistas, elas são realistas (haha). A gente vive numa sociedade que prega a felicidade como se esse fosse um jeito saudável de viver, sempre com um sorriso costurado na cara independente da dor que você esteja sentindo. O sofrimento é saudável também. Chorar, sentir dor, tentar entender a dor, expressar a tristeza, isso tudo é recomendável, melhor do que guardar, reprimir e sair por aí felizinho dizendo que tá tudo bem. O ser humano é composto dessa dicotomia, alegria e tristeza, prazer e dor, morte e vida. Não dá pra um excluir o outro. A morte, o sofrimento,  a "bad", não são coisas sombrias, fazem parte daquilo que a gente chama de viver, e a música faz com que eu enxergue beleza nisso, faz com que eu veja que eu não sou a única que vive, que existem pessoas que cantam a minha música porque vivem uma vida também, cheia de coisas boas e de coisas ruins. Se você vive conflitos internos, e transita por essas questões, isso significa que você está vivo.

Como você ver o cenário undergroud atual?
Sou uma leiga nesse assunto de underground. O que eu vejo é muita banda independente com um som foda se virando por aí pra conseguir um espaço nas cenas por aí, e seguir o estilo que a banda curte. Ultimamente eu tenho conhecido uma galera massa que tá aí nos mesmos corres, se ferrando pra caramba, indo em show cilada, tentando se descobrir, mostrar o som. Gente nova, carne fresca, banda que eu nunca tinha ouvido na vida, de tudo quanto é estilo! Isso é bonito de ver. Ver que coisa nova tá surgindo aí, uma galera tentando novos projetos musicais, experimentando as coisas, descobrindo os sons... enfim. Não sei de nada, tô aqui só experimentando esse momento, tentando fazer parte disso mostrando minha cara por aí também. (hahahaha)

Recentemente você foi convidada para dá uma palestra em um evento musical online sobre composição. Como foi feito esse contato e qual seu sentimento em relação a palestra?
Poxa, uma situação completamente nova pra mim! O querido do Gustaf Rosin, vocalista e guitarrista da Moldar, veio com essa proposta de que eu falasse nesse congresso online sobre a minha experiência artística nesse meio musical e eu aceitei logo de cara sem nem saber direito como seria (risos)! Agradeço imensamente por ele ter confiado em mim pra palestrar no 1º Congresso Nacional de Composição e Criatividade Musical (CONAMUS), é muita responsabilidade! Ele me explicou tudinho, tirou minhas dúvidas de iniciante e eu peguei mais confiança pra falar do que eu tenho pra oferecer. Eu fico muito muito muito feliz de poder participar de um evento tão importante e tão grande desse jeito, ao lado de gente grande! Poxa, meu nome tá junto com o do Lucas Silveira, do Felipe Andreoli, do Gustavo Bertoni, com o do Dave Elkins da MAE que foi uma das bandas que eu mais ouvi nessa minha vida! É uma honra enorme participar desse congresso com gente que eu admiro, que eu sou fã (hahahaha)


Ainda sobre suas composições, diga-nos um pouco sobre "Juro que eu tentei" e "O Conselho do Bom Senso", suas novas músicas do soundcloud.
Amo demais essas músicas. Elas são registros de momentos importantes da minha vida e fazem com que eu me veja de outro jeito, como se estivesse me vendo de fora. Falam de como eu me cansei de satisfazer os outros, de tentar alcançar os outros, falam de amor, é claro, e de desamor também. A "Juro que eu tentei" fala da menina que eu decidi alimentar, a jovem, doente, triste. Decidi alimentar um pouco essas sensações porque cansei de ver gente tentando agradar e sair sorrindo mesmo de coração ferido, cansei de gente pedindo pra fulano não chorar como se isso fosse ruim, de gente falando que minhas músicas são "bads" e que eu deveria tentar compor coisas mais felizes.  "Conselho do Bom Senso" eu escrevi pra me dizer  'chega lay, já deu dessa história', o momento que eu passei e a história que essa música esconde precisava de um fim, precisava afundar, então eu fiz ela pra fechar uma história, pra colocar um ponto final num momento.

Pergunta clichê do blog: o que você ouve no dia-a-dia (do nível, tipo, não dá pra deixar de ouvir) e com quem você sonha dividir palco ou composição?
Ultimamente tenho ouvido demaaaaaaais Fickle Friends, Paperwhite, Vulfpeck, Troco em Bala, Great Good Fine Ok, Baiana System, uma misiquinha específica chamada Swept Away do Vanilla, Alice Caymmi, Karol Conka, Flora Matos, e mais um monte aí... Meu sonho é cantar com o Castello Branco, com a Corinne Bailey Rae, com Supercombo, com a Lucy Rose (hahahah) sonhos grandes.

Quais são seus novos projetos musicais solo e/ou com a Simonami?
Bom, a Simonami tá mais sossegada agora, então as ideias são várias. Ando pensando em soltar uma coletânea com tudo que eu já produzi até o momento. Eu, a Lilian e o Jean estamos com umas ideias loucas aí pra nós três também (risos) só isso que eu posso dizer :P

Lay, obrigado pela simpatia e pedimos que deixe uma mensagem aos nosso leitores!
Eu que agradeço muitíssimo pelo interesse no meu trabalho! É bonito ver que minhas músicas, e minha visão sobre as coisas tem algum peso ou fazem algum sentido pras pessoas (haha). E aos leitores, eu espero que tenha conseguido satisfazer as curiosidades sobre a Simonami, sobre mim, sobre música :) 
Um Abraço!

Um comentário:

  1. Vixe!!! Tem algo nela que acho interessante e apesar de não procurar em outr@s não vejo muito, é essa afirmação de que a vida, sua própria vida sendo enfático, é matéria prima que em várias vezes norteia a composição. É a vida mesmo!!!

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