segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Análise: CD "Heavier Things" - John Mayer

Opa!
Dando continuidade à série de resenhas sobre a discografia de John Mayer, vamos agora ao ano de 2003, onde, após o sucesso mundial do Room For Squares (com direito a um Grammy de Melhor Performance Vocal Masculina de Pop para a música "Your Body Is A Wonderland") e o lançamento do DVD Any Given Thursday com canções do 1º CD, canções do EP lá de 1999, canções novas e ate um cover de "Message In A Bottle" do Police, ele volta ao estúdio para dar continuidade ao seu trabalho. Há um fato engraçado sobre esse disco que é que, antes de gravar o anterior, foi dito a John que o 1º álbum seria apenas uma amostra de quem ele era e que esse de fato seria o grande hit, mas ele tinha toda a confiança do mundo que o Room For Squares seria um grande disco, e o foi. Imagine, então, o Heavier Things vindo em sequência! Era só ele não "estragar tudo", como alguns artistas e bandas acabam mudando completamente a direção musical, e ninguém entende o que houve. No Heavier Things, John segue seu caminho, e mostra que amadureceu, se tornou mais melódico tanto liricamente como musicalmente, embora sem perder a vivacidade que apresentou no álbum anterior; ele apenas deu uma arredondada, ao mesmo tempo que incorporou mais elementos de blues ao seu pop. Usou mais a guitarra, especialmente ao vivo.

Devaneio: nas minhas andanças da vida eu ouvi a discografia do John várias vezes, mas nunca conseguia captar o conceito desse álbum em especifico. Minha grande amiga Consthânza me disse, o Heavier Things (chamarei de HT) é um álbum cotidiano. Hein? Como assim, cotidiano? Isso foi bem difícil de entender, e preciso dizer que ela colaborou nessa resenha, porque eu "caí no conto do HT". Ao enviar o rascunho ela destrinchou as ideias e me esclareceu de novo. Em princípio, eu sequer captava a conexão entre as canções, o álbum me parecia apenas uma coletânea pop com canções legais do John, nada mais que isso, e foi assim por um bom tempo. Mas, foi num típico dia meu de 2014, frustrado, cansado, longe de casa, ponho o álbum pra tocar, e de repente me deu um estalo. Ao olhar pro momento que eu tava vivendo, fez sentido. Eu já sabia as letras, as melodias, mas agora os olhos abriram, os ouvidos entenderam, e tudo fez sentido, tudo se encaixou. Entendeu? Acho que não. haha. Mas, é exatamente isso: você se pega num momento do cotidiano, completamente rotineiro, e daí compreende meio que do nada. 

O engraçado é que esse álbum te quebra todo, amassa, mói tua alma, te põe pra baixo, porque não é necessariamente um álbum pra ser animador, embora, nas primeiras audições pareça ser, e talvez isso tenha me confundido (ou talvez eu ainda esteja confuso... who knows?). Na verdade, há umas canções "animadoras", na representação do que a gente vive fazendo nessa vida de cão: tentar se animar, correr atrás de ser feliz se prendendo num momento, numa pessoa, numa coisa, num sonho. E nos agarramos nisso porque a gente precisa, pelo menos, de uns estalos de alegria de vez em quando... mas é tudo engano... porque o Heavier Things engana... o HT é vaidade... o HT é ilusão... o HT é a vida. É um álbum bem eclesiástico, digamos. De vez em quando John dá umas animadas, mas só pra lembrar que a gente sonha um monte de coisa intangível. "Vou mudar, vou ser assim, vou fazer tal coisa... mas não hoje". E a gente volta e meia repete isso pra nós mesmos, pra ver se conseguimos nos animar minimamente até a hora de voltar pra casa e dormir e recomeçar o ciclo. É cotidiano, doloroso, repetitivo, porque trata de coisas assim. É pensar involuntariamente e morrer de raiva disso, mas não conseguir evitar. É esse sentimento universal de insatisfação e inadequação... é tentar - sem sucesso - calar essa mente tagarela. É muita coisa! E justamente por ser louco e carregado assim é que ele é tão esperançoso, porque a gente começa a sonhar e se alegra e daí corre atrás de ser quem quer ser, yay! 

Aterrisando: ah, sei lá, cara. Eu só sei que eu ouvia e não achava absolutamente nada dele, e depois de umas conversas e reflexões acho coisas e mais coisas e é capaz de ter mais, e só faço amar mais e mais esse álbum. Só ouvindo pra entender. Bem, a produção foi de Jack Joseph Puig, que aproveitou pra deixar a obra um pouco mais pop, adicionando mais loops, metais, enquanto John pôde focar mais em ser um artista; muito foi gravado em NY mesmo. E novamente, ele recebeu um Grammy, aliás dois, os dois aos quais ele foi indicado: Música do Ano, e Melhor Performance Vocal Masculina de Pop para "Daughters".

Capa do CD "Heavier Things"


Ok, introdução feita, vamos à análise faixa a faixa:
O CD inicia com Clarity. Ela está na minha playlist de canções para ouvir quando acordar, e é uma música de 5 minutos sobre uma sensação de 5 segundos. Sabe quando você acabou de acordar, mente vazia, parece que não há nenhum problema na vida, e aí você se dá conta de que acordou e está na vida real? E aí você se deita de novo fingindo estender esse belo momento de paz, não é? Bem, Clarity é sobre isso. Ah, não é só isso, não mesmo! Parece que deram uma injeção de serenidade e energia boa na composição, que nem uma segunda-feira vai abafar. Tecladinho na introdução, sopros, ê sonzeira boa.
Em seguida, Bigger Than My Body. É sobre buscar um grande objetivo na vida, sabendo que não vai consegui-lo logo agora, mas um dia vai voar mais alto que o avião presidencial (ba tum dss). É uma bela de uma espacada do hoje, uma esperança num futuro incerto. É como se ele estivesse dizendo "hoje não tá bom... mas SOMEDAY I'LL FLY!". Ou... "I'm bigger than my body gives me credit for". É bem roqueira, boa pra celebrar a vida e pular bem muito num show.
Something's Missing começa a destruição da alma. A atmosfera da música da canção parece que vai prever algo complicado mesmo antes do cara cantar. Ela vem mostrar o momento em que temos um problema, aquele vazio que dói, e não fazemos ideia de como ele apareceu. Amigos? Sexo oposto? Dinheiro? Boa noite de sono? Essas e outras coisas não faltam pro personagem... mas está faltando algo, e ele não sabe o que é, ele definitivamente não sabe...
Aí vem New Deep e uma bela de uma ironia dolorida. Olha só pra minha vida: eu sou um cara feliz, iluminado, roupas bonitas, perfume cheiroso, sucesso na vida. Vou até me fazer um teste e ver como eu sou um mané, hahaha. Sabe por quê? Porque comigo tá tudo muito bom, tudo muito bem, e porque isso tudo é mentira. Quando você tá mal, a primeira coisa que faz é vestir um sorriso e dizer pra todos e pra si que tá tudo ÓTEMO! Ô, que fala barata. Que dor na alma. E essa canção engana! Sua composição em ré maior com andamento allegro (isso talvez já seja uma dica) faz parecer uma música tranquila e alegre pra andar cantando como se realmente estivesse tudo bem com a vida, o que a faz ser mais incrível ainda. Se ela tivesse um tom mais dark, lágrimas iam cair e muito!
Na sequência, Come Back To Bed. Bonita demais! Ela tem algo que é até raro de se ver hoje: perdão. Tipo, "amor, eu fiz uma caca, acabei te afastando por isso, escutei teu choro baixinho e você andando pra sala na ponta dos pés só pra não ficar no quarto comigo. Mas sem você é frio demais aqui! Volta." É. Ela é melódica no ponto, canção de fala tranquila, solo pra tocar na alma, muito boa, sem mais!
Aí vem um dos pontos altos do disco, na minha opinião. Homelife, ou Home Life. Eu juro que não sei a grafia certa, pois já vi de forma "oficial" dos dois jeitos. Que tal passar o resto da vida em casa, apenas e somente isso? E filosofando e endoidando coisas a respeito. Desenhar um círculo no chão, sentar lá, viver de osmose, se esconder do mundo, desaparecer da lista telefônica. Bem, de todas as canções essa foi a que eu demorei mais pra sacar o que tinha atrás dele, e talvez entendi, mas explicar não dá... eu só repito a letra (com outras palavras) e vocês decidem! Mas, só sei que ela tem uma carga muito grande por trás, e talvez nunca saberemos o quanto ela é uma verdade... Enfim, o que interessa é que em minha opinião ela é o ponto alto, quero dizer, o mais baixo, tanto quanto New Deep. E a sua composição não é tão alegrinha, mas não é necessariamente dramática; mais um pop muito bem feito e muito sofrível pra alma (ou, pras almas daqueles que se identificaram um tanto com a canção).
Split Screen Sadness é mais uma romântica destruidora de almas, dessa vez porque temos o personagem falando que os dois lados estão arrasados, mas que apesar de ele ter terminado (e ao mesmo tempo ela pareceu não resistir) e de não querer voltar, ele ainda quer vê-la, ainda espera que ela volte, que ela lute por ele, e ele ainda checa o tempo na cidade dela, pra saber se ela pode ver as estrelas nessa noite. Se eu entendo? Bem, quem entende o coração o tempo todo? A gente é controverso por natureza. E pra mim essa música deveria ser (se é que foi e eu não sei) tema pra basear um filme, porque contem uma história incrível, uma letra um pouco longa mas de jeito nenhum cansativa. Bem, no caso, só as emoções se cansariam. Mais uma vez, o John melódico ataca e outra vez com perfeição.
E então vem Daughters. Essa música, pra mim, é uma verdade indiscutível. Eu nem vou explicar muito sobre ela, pois creio que ela fala por si. Apenas vou dizer que John não queria que ela fosse single: ele tinha medo que essa música marcasse a carreira dele. Por quê? Talvez porque ele fala de tanta coisa em suas canções que não queria ficar com a imagem (através dos singles, que são mais escutados) de quem só fala sobre garotas - como seu Grammy anterior foi Your Body Is A Wonderland. Mas olha um trecho de Daughters:

Com meninos, você pode ser rude
Você verá o quanto eles aguentam
Meninos serão fortes, serão soldados
Mas os meninos estarão perdidos sem o calor de
Um bom, bom coração de uma mulher

Em nome de cada homem
Cuidando de cada menina
Você é o deus e o peso do mundo dela

Então pais, sejam bons com suas filhas
Filhas amarão como vocês amam
Meninas se tornam amantes que se transformam em mães
Então, mães, sejam boas com suas filhas também

É ou não é incrível?! Pra mim, ela recupera a quase depressão que esse álbum causa, hehe.
Já levemente recuperado, temos Only Heart. A parada aqui é simples: garota, relaxe. Você tem o coração dele. Se você deixar ele partir, ele vai ficar! A canção é animada sim, talvez de propósito, who knows? Batida alegre, tom de sol menor nas estrofes dá uma atmosfera levemente tensa, pra mudar ao si menor no refrão e fazer a tranquilidade reinar, enquanto ele repete, "Yeah, you got my only heart".
Por fim, vem a cereja do bolo. Wheel. Uma canção contemplativa, refletiva, celebrativa, abraçativa, chorativa, e mais além disso, mas calma que isso é um pouco de fanboyzisse minha também! Enfim. O tempo passa, as coisas mudam, as pessoas vão e vem, e a gente precisa compreender isso, e entrar na onda, ou a vida nos deixa pra trás. Mas, enquanto uns grandes se vão, é bom saber que podemos contar com outros que ficam por perto. A vida segue, portanto...

People have the right to fly
And will when it gets compromised
Their hearts say "Move along",
Their minds say "Gotcha heart",
"Let's move it along"

And airports see it all the time
Where someone's last goodbye
Blends in with someone's sigh
Cause someone's coming home
In hand a single rose

And that's the way this wheel keeps working now...

A esperança renasce. A roda da vida continua a girar, enfim. "I believe that my life's gonna see the love I give returned to me".

Letras: 10
Produção: 9
Projeto Gráfico: 8
Interpretação: 10

3 comentários:

  1. Oi!
    Cara, curti muito tua análise! Você foi muito mais detalhista que eu e isso facilitou para "acompanhar" o álbum faixa por faixa. Nunca ouvi esse inteiro, mas fiquei interessada, não só pelas letras mas pelo estilo dele.

    Com certeza vou acolher sua sugestão! Haha. Vou ouvir o álbum do ID inteirinho e resenhar lá no blog. Tou para fazer a do 1989 da Taylor Swift, embora nem seja tão fã dela. Fico feliz por ter curtido ^^
    Obrigada pelo comentário no blog ♥
    Beijos,
    Nalu
    http://coisasafiins.blogspot.com

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  2. Olá Aninha! Tudo bem querida?
    Foi eu quem deixei um comentário no seu blog, mas esse texto foi meu amigo Phil quem escreveu. Mas agradeço mesmo assim. Continue acompanhando o blog, e muito obrigado pelo comentário! Vou aguardar a resenha do "1989" hein...

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  3. Caraca, só agora vi o comentário da Ana!

    Puxa, obrigado por vir aqui. Pode ouvir, super recomendo (bem, sou fã de JM então sempre recomendarei, hehe).

    Volte sempre. Abç forte ;)

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